O
TOTEM DA LHAMA
Recontado por Samuel
Souza de Paula
Há muito tempo, quando os
seres humanos passavam por desafios mil e sua postura diante da vida perdia os
valores essenciais de conexão com a natureza, não respeitavam nem a si mesmos,
nem aos espíritos que geravam a vida. Esquecia quem eram com a mesma facilidade
de expressar violência em meio à guerra, ainda assim existiam lampejos de
esperança no alto das montanhas.
Dois irmãos pastores e suas famílias,
matinha um caráter impecável, dançavam a dança de suas vidas com respeito e
gratidão. Sabiam e confiavam que existiam sinais e soluções ao alcance de seus
olhos e corações. Certo dia, eles ficaram muito preocupados quando suas lhamas
começaram a agir estranhamente. As lhamas deixaram de comer e passavam a noite
olhando tristemente as estrelas. Então os irmãos perguntaram às lhamas o que
estava acontecendo e a resposta foi: “As estrelas nos disseram que um grande dilúvio
está vindo e destruirá todas as criaturas sobre a terra. Lembre-se: muitas
vezes recebemos não aquilo que a gente quer, mas aquilo que precisamos”. Os irmãos,
então procuraram a segurança das montanhas mais altas, levaram seus rebanhos
para a caverna mais alta, até que começou a chover.
Choveu por nove semanas sem
fim. Olhando do alto da montanha, os irmãos viram que as lhamas estavam certas.
O mundo estava mergulhado em crises, guerras e se afogando em coisas sem
sentido, sem alma. À medida que a água ia subindo, milagrosamente, a montanha onde
estavam, ficava cada vez mais alta. O coração dos irmãos, suas famílias e
rebanhos pulsava a chama sagrada, a confiança na montanha, no amor, no trabalho
interior e na sabedoria. Quando as águas estavam tocando a entrada da caverna, a
montanha crescia mais ainda, mais e mais.
Tempos depois eles viram que a
chuva havia estiado e que as águas estavam baixando. Inti, o Deus do Sol,
apareceu novamente e sorriu, fazendo com que as águas se evaporassem. Era a
dança no caminho do sol, era o renascer para a vida, era o brilho renovado. Eles
então olharam do alto da montanha e viram que a terra estava seca, tão seca
como a garganta depois de apitar pelo osso da águia, sem um gole de água, após quatro
dias.
A montanha voltou à sua altura
normal e os pastores e suas famílias repovoaram a terra. Dizem então que a
partir daquele momento os seres humanos vivem em toda parte, mas as lhamas
lembram-se do dilúvio e por isso preferem viver apenas nas terras altas.
Que sua dança pela vida seja
inspirada pelas altas conexões da lhama (llama no idioma quéchua), mesmo naquelas
situações que se assemelhe a um dilúvio. Que o totem da lhama traga a energia de
proteção, prosperidade, abundancia, sucesso, realizações, gratidão, calma, ternura,
gentileza e doçura.
Por todas as nossas relações!
Obs.: Samuel Souza de Paula,
neste ano de 2013, completou 10 anos de danças (6 anos “Drum Dance”, 4 anos “Sun
Moon Dance”) nas tradições transmitidas pelo visionário Beautiful Painted Arrow,
descendente dos Pueblos Picuris e Utes do Sul, cujos ancestrais foram os
Anasazi. Se você tem interesse em conhecer um pouco mais sobre as danças, entre
em contato com Felicity Macdonald, líder das referidas danças no Brasil (Dançando
a Luz). Email: felicity@bighost.com.br
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