terça-feira, 21 de outubro de 2008

OS VENTOS CAÇADORES DO MOVIMENTO


Pela manhã, bem cedo, saímos rastreando os caminhos da cura externa. Já não eram interessantes as velhas vestimentas mentais. Nossas crenças e vibrações eram desafiadas pelos ventos caçadores do movimento e do impulso espiral das montanhas de dentro.

O visionário, inspirado, clamou aos céus por praticidade. Falou elevando suas mãos, como holofotes direcionados ao Sagrado: “Força Maior que dirige meus sonhos. Banha minha presença com Sua inteligência, com a rapidez de Seus pensamentos e a fluidez de Suas ações. Esperam por mim no encontro com a Rainha de Ouro. Qual o caminho do agora seguir?”

Ouvíamos sua voz como se ecoasse dentro de nós. Um estrondo ensurdecedor, como batidas em metais, e um forte brilho invadiu nossa morada interna. Trememos, feito vara verde sob o vento forte. Aquilo era muito novo em intensidade e o novo era tão estranho, que puxava a saudade das velhas dificuldades. “Como estamos acostumados e acomodados com os desafios conhecidos”, alguns comentaram. “Como é fácil reclamar e nada fazer para melhorar”, outro falou.

Mas existia muito mais que esperança nas palavras do visionário. Tanto que aquele que mais racionalizava pediu silêncio. O outro que nunca calava escutou a si mesmo. O irritadinho ficou calvo e calmo. O medroso correu até um buraco, não queria ver, mas todos viam seus pés, pernas, tronco, pescoço e braços querendo dali sair. O guerreiro empunhou seu olhar certeiro na vontade resoluta, atirou-se confiante na vida e algo a mais aconteceu sem dúvida. O velho já estava, e a mulher sentia ondas marinhas dos pés à cabeça. Detalhe, não havia água, só havia consciência. Magia dos ventos caçadores do movimento.

Quando o clamor visionário rebateu nas montanhas distantes, voltou com uma voz vibrante como o som do nascer do Sol. Atento e intuitivo, o coração ouviu o alimento que nutre as respostas da vida: “O amor é o fio dourado que expande a consciência. Estar no agora é estar em minha Presença!” Muitos que ali estavam ficaram contentes e entenderam. Outros, mais exigentes, se questionaram mais profundamente...

O que as palavras poderiam dizer não era a questão, mas sim o que os sentimentos poderiam gerar nas novas conexões. Podia ser noite, podia ser dia, mas a integração da dualidade era presente na vida. Alguns percebiam, os ventos caçadores do movimento, e se sentiam voadores, como os mensageiros dos sonhos e da vivência real. Sentiam a magia no mundo, magia que constantemente se re-cria. Eram buscadores que se apropriavam da força que buscavam e reconheciam em si mesmos o deus interior.

Compreendiam que tecer os novos modelos de vida era viver inteiramente o tempo, cientes de que este é mutação constante. Entendiam que respeitar o corpo, suas dores e prazeres eram necessários em muitos momentos. Que respeitar os comportamentos era expressão de inteligência, já que na transitoriedade cotidiana nada é, tão certo ou tão errado, quanto se imagina. Atento às muitas outras mensagens respeitosas eles procuravam decifrar e transcodificar os insights de dentro. Enquanto assim faziam, uma mulher vestida de branco, vinda não sei de onde, se aproximou e envolveu a todos num manto sagrado.

Era tão sutil e brilhante, que somente os corações tranqüilos sentiam, mas tão forte que, sem saber, todos os corações ficavam tranqüilos. Pudemos ver nossas sombras presentes, elas não eram rejeitadas, nem os erros, nem as falhas, era tudo presente naquilo que se era ali realmente. Purificamos nossos acontecimentos com as mãos da sinceridade e as águas das faces sem máscaras, na verdade de nós mesmos, já era meio-dia.

Podíamos dizer que todas as preces eram ouvidas e realizadas imediatamente. “Um pouco mais de alegria”, clamava a criança sorridente. “Um pouco mais de fé”, suspirou plenamente o ser ancião. “Um pouco mais de docilidade”, inspirou a mulher em sua ternura. “Um pouco mais de sonhos”, co-criou o visionário em suas palavras nunca perdidas. “Um pouco mais de vida”, contagiava o Universo com Seu balançar de mistérios.

Aquele encontro não era apenas o encontro daqueles que se descreviam. Mas era o seu com o seu, quando realmente se sentia. Quando sentia os ventos caçadores de movimentos e as inteligências de seus momentos, que inspiravam e inspiram a completude da vida. Podemos sentir isso assim, daqui, quando desejamos de coração... Muita paz, energia, prosperidade, amor e alegria na sua e em todas as vidas!

Grande abraço,

Samuel Souza de Paula
samuel.s.silva@bol.com.br

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