segunda-feira, 1 de setembro de 2008

CONVERSANDO COM UMA ESTRELINHA


Numa noite destas encontrei uma estrela, ela estava perdida, não sabia de onde vinha nem para onde iria.

Não tive como esconder meu riso e afirmei: “Desculpe minha atitude estrelinha. Mas eu nunca vi uma estrela perdida!”

“Ah, é! Você pensa que é fácil? Já viu como é imenso o Universo?”, questionou ela, e explicando, continuou: “Desde quando nasci que procuro a minha mãe. Eu olhava os seres da Terra e todos eles tinham uma mãe, eles pareciam melhores do que estrelas. Então vim aprender como é esse jeito de ser não tão sozinha lá no espaço!”

“Tudo bem! Tudo bem, estrelinha. Imagino como o Universo pode ser realmente grandioso, mas, e se estivermos no seu centro, todo o resto não parecerá apenas movimento ao lado?”, continuei afetuoso, “Então por que este olhar de espanto amuado?”

“Não sabia que eles choravam tanto. Lá de cima parecia que era tudo uma maravilha na bola azulzinha; cheia de crianças, de mães e de fadas”, falava a estrelinha, um pouco decepcionada.

“Pois é, acho que você já está adquirindo olhos humanos. Fique atenta viu, pois em pouco tempo você pode esquecer que é uma estrela, e aí...”, aconselhei a nova amiga recém-chegada.

“Você conhece alguma estrela que se esqueceu que é estrela?!”, perguntou curiosa.

“Sim, várias. E depois passam vidas e vidas para se descobrir estrelas de novo. Sabe aquelas que estão rezando lá no templo, elas também são estrelas! Sabe as mães e suas crianças, elas também são estrelas. Sabe as pessoas que você viu chorando, elas também são estrelas.”

“Mas como?”, perguntou a estrelinha com olhar arregalado.

“É que nesta bola azulada existem várias magias e dentre estas magias existe a esperta ‘névoa do esquecimento’. Essa névoa não pode ver uma estrela chegando, que sopra um ventinho, e a estrelinha cai no sono. Envolve-se em outros sonos e sonhos e somem suas lembranças de outrora. Ah! E ainda tem mais, existe também a ‘magia da forma’, que inventa coloridos e sensações, e a estrelinhas brincando, entram na roda do mundo e acreditam em outros sonhos.”

“Mas, por que elas choram? Não estou vendo elas brincando como você está falando”, afirmou a estrelinha.

“Talvez seja porque elas já não estão gostando desta brincadeira. Talvez elas queiram algo a mais, a retomada da consciência, suas lembranças e acesso profundo à energia-sem-forma. Talvez as lágrimas noticiam uma nova mudança em breve. Talvez elas estejam cansadas de apenas ser uma parte da brincadeira e querem ser “estrelas-belezas”. Talvez estejam tentando, mas estão meio desengonçadas, sem jeito, parecem que esqueceram, e esqueceram mesmo, como é ser estrela de fato.”

“Como vamos fazer para que se lembrem? Alguém já se lembrou? Eu não quero esquecer que sou estrela!”, falava com entusiasmo e doçura a estrelinha.

“Conheço várias histórias de estrelas que lembraram, por aqui elas são chamadas de mestres, porque elas apontam caminhos! O Cristo-estrela disse que só é preciso ‘ter o céu no coração e ver os outros também como estrelas’. Mas, é preciso se alimentar com o amor à prática e a prática do amor. Tem uma frase que muitos ‘esquecidos’ repetem, estrelinha. Sabe qual é?”

“Não, qual é?”, com olhinhos brilhantes.

“Ame a Deus sobre todas as coisas e aos outros como a si mesmo!” – disse em tom misterioso.

“Mas quem é esse Deus?” – perguntou a estrelinha.

“Talvez, seja de onde você veio, é o céu!” – disse desviando o olhar para o centro de seu brilho e o céu acima.

“Então é só amar o céu e voltam a ser estrelas? Ah, isso eu consigo, nem resolvi ficar por aqui e já estou com saudade!” – exclamou confiante.

“Mas não é só isso estrelinha!” – disse.

“Não?!” – questionou confusa.

“Tem que amar a Terra também, afinal, tem que amar todos e todos os lugares. E o céu, estrelinha, ele não está só lá em cima, ele está em toda a parte, quem tem olhos para ver que veja, já diziam!” – disse com profundo respeito às formas visíveis e invisíveis que, agora, nos rodeavam.

“Como as coisas são simples e complexas nesse jardim terrestre! Vou voltar pro meu lugar e brilhar, depois eu te visito para batermos um outro papo, tá? Tchau!” – se despediu a estrelinha, deixando um rastro luminoso e um lugar no meu coração, que dizia coisas que nem mesmo sabia que sabia.

“Paz e luz para você estrelinha! Até outro dia!” – disse, pouco depois, toca o despertador. É hora de me levantar e quem sabe hoje seja o dia de eu começar a me lembrar...


“Amar a prática que faz contente meu espírito e partilhar a prática do amor que desperta vida!”



Samuel Souza de Paula
samuel.s.silva@bol.com.br

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